Oscar 2021 celebra a diversidade e expande fronteiras

A principal premiação do cinema mundial também se adequou ao 'novo normal', reflexo da pandemia da Covid-19. A cerimônia, que teve data postergada, aconteceu este ano em nova locação, a Union Station, em Los Angeles, escolha simbólica que aponta para trânsitos e trocas, afinal, apesar do confinamento, ou por causa dele, tudo está mudando de lugar.

A cerimônia, mais enxuta que o habitual, teve momentos marcantes com os discursos de premiados e premiadas da noite. Nota-se um avanço nos esforços da Academia em ampliar as rotas para além do território estadunidense. A lista de indicados também apresentou maior diversidade mostrando que o júri segue antenado às demandas por representatividade de gênero e raça crescentes nos Estados Unidos e no mundo. Não à toa, a maior parte dos filmes indicados abordava questões delicadas como racismo estrutural, direitos civis, desigualdade de renda, refugiados de guerra e tantos outros anacronismos sociais. 

Logo no primeiro prêmio, o Oscar mostrou a que veio em 2021, concedendo a Emerald Fennell, o prêmio de Melhor Roteiro Original por "Bela Vingança". A abertura de espaço para mulheres em tela e atrás das câmeras no Oscar vem avançando, mas ainda de forma tímida para os clamores deste momento histórico de protagonismo feminino e luta pôr equidade. 

O grande destaque da noite foi "Nomadland", de Chloé Zhao. A diretora e roteirista chinesa tornou-se a segunda mulher a vencer a categoria de Melhor Direção, ainda levou para casa a estatueta de Melhor Filme e viu sua parceira de produção, Frances McDormand, ganhar como Melhor Atriz. Vale destacar que o filme foi o menos lucrativo da lista de indicados de todo o prêmio.

Além de iluminar a diversidade, a cerimônia de 2021 prestigiou filmes com custos menores de produção, como Minari que permitiu a Yuh-Jung Youn (73 anos) levar o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, tornando-se a primeira atriz sul-coreana e segunda atriz asiática premiada pela academia em sua longa história.

"Judas e o Messias Negro" abocanhou os prêmios de Melhor Ator Coadjuvante, para Daniel Kaluuya, e Melhor Canção Original, com “Fight for You”, da jovem cantora H.E.R, de apenas 23 anos, desbancando o favorito Leslie Odom Jr., pela canção de "Uma noite em Miami". Vale ressaltar a presença de indicados e premiados negros num oscar que já foi acusado de ser “so white”. 

Vale destacar ainda as duas estatuetas concedidas à obra "A Voz Suprema do Blues". O filme tinha mais chances de levar para casa as estatuetas de Melhor Atriz e Melhor ator, mas acabou ganhando em duas categorias técnicas: Melhor Maquiagem e Penteado e Melhor Figurino. Destaque para as vencedoras da primeira categoria, que também se tornaram as primeiras negras a vencer o prêmio ao longo das 93 edições do Oscar. 

Para analistas de cinema a Academia perdeu a chance de repetir 2002, quando Halle Berry e Denzel Washington venceram por Melhor Atriz e Melhor Ator. Apesar do belo trabalho de Viola Davis e Chadwick Boseman, falecido aos 43 anos no auge da carreira, a preferência foi por Anthony Hopkins ("Meu Pai") e Frances McDormand (“Nomadland”), também brilhantes em seus papéis. 

Por fim, vale ressaltar que desde 2020 a Academia tem aberto as portas para reverenciar um cinema mais diverso. Talvez, se "Central do Brasil" tivesse concorrido nas duas últimas premiações, certamente Fernanda Montenegro, impecável na película brasileira, teria um Oscar em sua estante. Afinal, a performance de Gwyneth Paltrow, em "Shakespeare Apaixonado" (1999) não se compara à da atriz brasileira. Esses bons ventos mostram que o eixo EUA-Reino Unido-França-Itália já não é hegemônico às luzes da ribalta. Num ano de nomadismos profundos o Oscar saiu da sala de cinema e foi para uma estação ferroviária em busca de novos caminhos, bem mais antenados com a nova ordem mundial.  Ótima notícia para os fãs da grande arte que querem um cinema mais plural e global!